terça-feira, 7 de junho de 2011

QUER UM CONSELHO?


Tem sempre alguém para dizer que “se conselho fosse bom, alguém venderia” – e normalmente, a frase é sucedida por um conselho grátis. Maesmo assim, se o ditado for válido, a julgar pelo quão caro saiu o recém-nascido Conselho de Arquitetura e Urbanismo, ele deve mesmo ser ótimo.

Quase 80 anos depois do casamento, finalmente saíram os papéis do divórcio, pedido há meio século. Não seremos mais explorados por engenheiros e agrônomos, restando a tarefa apenas para o Estado (sempre) e pelos clientes, (as vezes).

Bem, e o que muda? Tudo.

Se os filósofos dizem que o que não existe na linguagem não existe no mundo, então a profissão autônoma de arquiteto passa a existir agora no Brasil. Exagero? Não é preciso atuar na área para saber que hoje o brasileiro médio não faz a menor idéia do que separa a atuação do arquiteto e do engenheiro. Como poderiam, se os próprios não têm lá muita certeza?

Na verdade, ninguém tem: na prática, são os próprios profissionais (de ambos os lados) que acabam determinando seus limites de atuação numa grande terra de ninguém - só o terreno que é do desavisado cliente.
Então se dentro de algumas gerações, a confusão entre as áreas de atuação da engenharia e da arquitetura parecer absurda, certamente alguma coisa terá caminhado na direção certa. (ainda que o afastamento dos agrônomos possa contrariar alguns arquitetos atualmente mais interessados em verdura que em arquitetura).

Assim, diante da tarefa colossal que se apresenta, causa espanto algumas prioridades expostas recentemente pela primeira rodada de textos a respeito do Conselho: a mais espantosa para mim: a ampliação de concursos públicos.

Não há duvida de que trata-se de uma meta importante. Mas está longe de ser uma prioridade nesse momento . Senão vejamos. Que se façam mais concursos da forma que a profissão funciona hoje. O projeto vencedor do concurso terá as seguintes características:

1. Terá sido escolhido à revelia das regras do edital – o que terá pouco impacto, afinal, nem dotação orçamentária aprovada existe para a obra, e a chance de que saia do papel é sempre pequena.

2. Será amplamente alterado, com a aprovação ou não do arquiteto, segundo a vontade do contratante.

3. Terá sido produzido em um escritório com boa parte (ou a totalidade) de arquitetos sub-remunerados e não registrados, que trabalham em 3 ou 4 softwares piratas.

4. Terá um prazo esdrúxulo para a entrega, será pago meses após o término, e será licitado em partes, após passar por amplos cortes direto na planilha, mais uma vez sem supervisão do arquiteto.

5. Não terá a fiscalização da obra feita pelo próprio arquiteto – a não ser que eles se sujeitem a fazer isso de graça e informalmente, porque é mai fácil ganhar um passaporte diplomático do que aprovar juridicamente essa contratação.

Então, temos mais o que fazer por hora. Assim como os médicos estão encarregados dos hospitais e os advogados dos tribunais, teremos enfim condições de reivindicar, modestamente, que nos encarreguem da cidade inteira.

A profissão vive no Brasil o fim de um longo ritual de passagem à vida “adulta”. Como já fomos alertados, “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Até agora, nós arquitetos não tivemos poder nenhum, e a sociedade sempre teve certo pudor de nos responsabilizar por causa disso.

Pois se esse Conselho servir para algo, servirá para isso: para reivindicar os poderes que os arquitetos precisam ter - o de ser contratado, e de ver seus projetos executados fielmente - bem como para responsabilizá-los, uma vez que esses projetos virem realidade.

É uma batalha titânica, que tudo para dar errado, e depende fundamentalmente dos arquitetos. Ou seja, é como qualquer projeto; a gente tira de letra.

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